Hoje fui embora depois que a música desligou. Tive de suportar o silêncio depois de o meu ouvido ter se acostumado com o ruído. A música fora substituída, agora só se ouvia os insetos que madrugavam comigo. O coaxar, o zumbido, os novos ruídos. Ana se esticou e beijou meu rosto, e foi descendo, sua respiração agora era minha nova sinfonia, não conseguia ouvir mais nada. Segurei-a pelo cabelo, do jeito que eu sabia de que ela gostava, olhou pra cima com um sorriso de aprovação. Sua malícia me seduzia e eu me deleitava. Arfava, gemia e suspirava. Olhou-me de frente. Beijo. Era minha vez. Dessa vez eu que desci, mas, com menos romance e mais ação. Ela segurava minhas mãos e pressionava contra o corpo dela como se o bem mais precioso pudesse dela escapar. A minha língua molhou-a e transgrediu todas as promessas, traduziu meu desejo, mas só aquele. Minha mão a preenchia. Minha outra a equilibrava. E minha língua brincava. Arfou, gemeu e suspirou. Deitei-a na grama, tínhamos agora nossa própria música, ritmada e repetitiva. A base. Os dois solistas interpretavam amantes, mas sempre piano. A música passou a ter rubatos. O ritmo mudava. A sinfonia ia se acelerando e ritardando, conforme o desejo dos intérpretes. Os solistas se beijavam loucamente. O peso dos corpos lhes tirava o frio. A lascívia saliva escorria por todo o corpo deles, os lambuzava e os embrulhava para a noite de núpcias. Era a respiração, agitação, emoção, os sons, as cores, as dores, o toque, o calor, a paixão, a volúpia. O aviso. O gemido. A respiração. O beijo. O silêncio.
O regente fechara os punhos.
'O que será? Que Será?
ResponderExcluirQue vive nas idéias
Desses amantes
Que cantam os poetas
Mais delirantes
O que não tem decência
Nem nunca terá!
O que não tem censura
Nem nunca terá!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!
O que não tem juízo...'
Muito bom.
bjo, bjo, bjo...
ps.: espero ver mais posts por aqui :)
Mari fez uma ótima ligação com a música do Chico, cabe perfeitamente! Faço um adendo com essa estrofe aqui:
ResponderExcluir"O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo."
E você arrasou na metáfora. Adoro esse texto desde a primeira vez que li. Quero outros! =)
Beijos!